Duas Margens

BEM VINDO ÀS DUAS MARGENS

Espero que possamos partilhar a vontade de construir pontes e passagens, certos de que todas a pontes e passagens têm pelo menos 2 entradas e que todas as entradas são também saídas. Às vezes não importa tanto onde entramos e por onde saímos, mas o que no percurso fazemos juntos.

sábado, 30 de janeiro de 2010

AGENDA DE LISBOA. E AGORA?

A Europa falhou a Agenda de Lisboa.
O Ministro das Finanças veio, em Lisboa, juntamente com a sua homóloga espanhola, dizer isso mesmo.
Adoptada há 10 anos para, justamente em 10 anos, impulsionar a Europa para se tornar a economia do conhecimento mais competitiva do mundo, pela primeira vez vejo um responsável confessar o seu fracasso. Mesmo que se manifeste optimista para os próximos 10…
Porque falhou a Europa esta estratégia?
Onde falhou? Que países foram determinantes neste falhanço? Em que países se registaram mais e melhores progressos? Como retomar o fôlego e relançar, actualizando, esta Agenda? Ou deve ser substituída por outra?
E Portugal? Como desenvolveu Lisboa a Agenda de Lisboa? Em que nos empenhámos estes 10 anos? Que êxitos registámos? Que fracassos averbámos?
A questão é central. O mundo andou. As economias emergentes cresceram. Ainda tínhamos, há uns anos, a expectativa de que o crescimento das economias asiáticas, da Índia, da China, se faria se faria em áreas de mão de obra barata e desqualificada, de que as actividades e os serviços baseados no conhecimento permaneceriam ocidentais e que a Europa daria cartas.
Enganámo-nos. Nem a Europa reforçou a sua capacidade de dar cartas, nem os asiáticos se ficaram pela economia da mão de obra desqualificada. Avançaram, decididos, na economia do conhecimento. Na formação de cientistas, engenheiros, técnicos, licenciados, doutorados, …
A questão é grave.
É precisa uma avaliação séria, sistemática, exaustiva. A reorientação necessária. Na Europa. Em Portugal. Precisamos de um Relatório de Avaliação da Agenda da Lisboa em Portugal
Rapidamente. Para abordar os próximos 10 anos com a convicção de que, daqui a 10 anos, não vamos estar a dizer o mesmo.

Pub in O Ribatejo

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A AGUIA VOOU ATÉ AO HAITI

Gostei de ver o Benfica e aquele jogo de apoio ao Haiti. Pelo jogo, sim. Voltar a ver jogar Rui Costa, o Humberto Coelho, o Rui Águas, o Chalana... até o Magnusson, gordo como ele está e a caír de costas ao primeiro remate... foi giro lembrar a classe de que temos memória. Mas também o Figo e o Zidane, o Kaka e os outos todos. E foi espectacular ver a adesão, a participação e o entusiasmo do público.
Uma festa, um grande e belo voo da águia para os haitianos.
Boa, Benfica. Estiveste à altura. Gostei.

sábado, 23 de janeiro de 2010

HAITI. HIPOCRISIA.

Hugo Chavez fez mais uma cena anti-americana. Seguido, de perto, pela diplomacia francesa, com a tradicional "finesse" cultural anti-colonialista, é claro. Os americanos estão a ocupar militarmente o Haiti! E ouvi também o silêncio compungido dos amigos de Chavez. a esquerda mas ou menos radical, anti-imperialista, anti capitalista, anti americana, anti...
Toda a gente sabe que, nestes casos, imediatamente a seguir à devastação, à morte, à doença, à fome, vem o caos, a desordem, a anarquia, os assaltos, os saques, a violência... Como fazer chegar ajuda num cenário destes? Toda a gente sabe que, nestes casos, a declaração do estado de emergência, a manutenção da ordem pública, o estabelecimento dos mínimos de segurança é a operação essencial para o sucesso que qualquer ajuda humanitária.
A ONU fez chegar imediatamente milhares de capacetes azuis. O Brazil esteve à altura. Os EUA foram e estão a ser decisivos.
Enquanto Chavez discursa longamente e obriga as televisões a passá-lo para que toda a gente tenha que o ouvir, os franceses exibem de longe a sua tradicional retórica de potência colonial com remorsos mal resolvidos, e uns tantos outros mantêm um silêncio táctico sobre a hipocrisia destas declarações estupidamente desumanas, os EUA agem e estão efectivamente no terreno.
Os haitianos agradecem.
Ainda bem que os EUA estão cá.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

sexo(a)(s)... e isso(a)(s)

Hoje recebi uma informação da Associação de Professores de Filosofia relativa a um encontro em Fevereiro. Tema: sexualidade(s). Assim: com o (s). A sinalizar sem margem para dúvida ou ambiguidade. (s).
É giro. A confissão sobre a necessidade expressa de afirmar o (s), o plural. Mas de onde vem esta necessidade? O que obriga a essa sinalização na linguagem? Afinal, como dizia já o velho Aristóteles, "o ser diz-se de muitas maneiras" e não passamos a vida a dizer o ser(s). Toda a gente sabe que sexualidade é (s). Como toda a gente sabe que, por exemplo, afecto é (s), amor é (s) sexo é (s), amizade é (s) e assim por diante e não passamos a vida a dizê-lo e dizemos simplesmente afecto, amor, sexo, amizade... e ainda bem.
A APF tem medo de ser processada por alguém que não se reconhece em sexualidade mas precisa do (s)?
Bem sei que língua é fascista, no sentido em que Barthes o afirmava e que está cheia de atalhos ínvios e enviesados. Mas precisamos de andar a armadilhar o tempo todo a linguagem que usamos, a espalhar sinais de trânsito, a introduzir dispositivos de metalinguaem que digam e digam o que queremos dizer e assim por diante e depois digam o contrário ou já ninguém saiba muito bem o que querem dizer ? Ou é uma necessidade de mostrar quão abertos e liberais somos? De exibir o quanto não temos preconceitos e isso...
Bolas! Sexualidade é sexualidade e diz-se de diferentes maneiras, como sempre disse, com (s) e sem (s). E não consta que os gregos tivéssem tido necessidade do (s) para coisa nenhuma!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

ARGUMENTAÇÃO vs ARTICULAÇÃO DO SENTIDO

A Alice Marques partilhou connosco uma reflexão de grande pertinência e recolocou a questão (Obrigado, Alice). Salvo melhor análise, parece-me poder, para já, dizer:
A lógica argumentativa dedutiva, tomando como pontos de partida o que podemos chamar os “bons princípios” (maioridade, liberdade individual, autonomia) é, sem dúvida, boa e mesmo necessária. E temos que a exercer, sem dúvida, sujeitando as coisas ao seu escrutínio.
Eu, pessoalmente, situei-me nessa perspectiva para considerar o casamento gay legítimo e legitimado, e sem ter que passar pelo crivo do referendo ou do pronunciamento popular, uma vez que se deduzia da lógica dos “bons princípios”.
Todavia se esta lógica nos conduz a propostas de configuração aceitáveis, pode também levar-nos a outras que nos “arrepiam” (Alice). E estou já a deixar de fora a adopção, limitando-me às situações envolvendo apenas sujeitos adultos e autónomos (bigamia, etc…).
O que pode isto querer dizer? Não, seguramente, que as coisas não sejam escrutináveis a partir de uma racionalidade lógica. Mas que tal escrutínio tem limites. E, seguramente, que há-de haver uma outra racionalidade para legitimação das nossas opções para lá da dedução dos “bons princípios”.
Pode ser que, achando coerente deduzir modos de vida como aceitáveis e legítimos a partir de valores como os referidos (liberdade etc), todavia os possamos considerar como não aceitáveis e não desejáveis a partir de uma outra ordem de razões? É isso que parece. Que outras ordem de razões, então? Que outra “ordem de boas razões” é essa?
Eu aceito o casamento gay com base nesses princípios.
Eu não aceito o casamento bígamo os polígamo que pode legitimar-se a partir dos mesmos princípios. Porquê?
“Arrepia-me” (Alice). Dá-me um sobressalto moral? Acho as consequências devastadoras para os fundamentos da nossa sociedade? Tenho medo? Não é numa sociedade assim que quero viver?
Bem, há uma lógica, sim. Mas há também o que entendemos ser “ nosso modo de vida”. Há também a vida, a sociedade, o mundo que queremos e em que queremos viver. Há situações que nos exigem não uma dedução, mas uma tomada de posição.
Quer dizer que as grandes questões não são do domínio da racionalidade lógica, dedutiva, proposicional, mas se decidem no domínio da moralidade, da capacidade de decisão, de decidir o que faz, ou não faz, sentido.
Trata-se, não só de avaliar lógicas e argumentos, mas de articular o sentido das coisa.
Ou, como tematizava Habermas, precisamos de distinguir uma racionalidade instrumental ou técnica de uma outra racionalidade que ele designa de "comunicativa".
E, se está em causa, não só a consideração da liberdade e o direito à auto determinação, mas também o nosso modo de vida, a sociedade, o sentido do mundo e da vida em que queremos viver, talvez faça sentido sujeitá-la ao diálogo, ao debate, à decisão social, a referendo, para as legitimar como práticas sociais…
Era bom analisar, a partir destas considerações, a questão do uso da burka em França, ou a dos minaretes na Suiça. Ou outras... Um dia talvez tenhamos que nos decidir sobre elas.
Terei que reler Habermas...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

PEDRO MARQUES DIXIT

"Pelo distrito de Santarém, entre um PS que se afunda - nem me recordo agora quem o lidera, veja-se! - e um PSD que nada acrescenta à (des)ilusão política, sobra espaço para que imperem alguns populismos."



Comentários?

domingo, 17 de janeiro de 2010

TRISTE ALTERNATIVA...

As coisas caminham para uma triste alternativa nas próximas presidenciais.
Quando o país mais precisa de um presidente que figure o futuro e nos inspire na sua construção, tudo indica que vamos ter uma escolha entre o passado e o passado.
Cavaco perde-se numa deriva incompreensivel, entre a lucidez e a tolice.
Alegre foi musa nos anos 60/70 do século passado.
Entre a esfinge imcompeensível e o bardo fora de tempo, que Deus nos ensine o caminho para saír daqui p´ra fora, como canta a canção popular...
E há Guterres, Gama, Ferro...
O país parece andar mesmo com as voltas trocadas...

BOA, ANTÓNIO !

António Costa fez bem. Ou recuou, ou pôs ordem no freio nos dentes do "gayismo" militante. Gays de Santo António? Não. Porque não se trata de um acto do Estado, ou da Administração, que devem permanecerer laicos. É um acto tutelado expressamente por Santo António, uma figura de todos (agora...) mas particularmente do património do Igreja. Isso faz da coisa uma coisa diferente. E casamentos gay de Santo António seria uma provocação à Igreja. Inútil e desnecessária. Ainda bem que há quem conserve a lucidez e não tome o freio nos dentes.
Boa, António Costa!

sábado, 16 de janeiro de 2010

NEM SUN TZU ENTENDE...

Bem... Cavaco Silva teve, por mérito próprio, um verão negro.
Depois calou-se. Ganhou com isso. Amorteceu...
Com a mensagem de ano novo deu a volta por cima. Impôs-se, repôs-se, definiu. E foi seguido por todos... A um ano de eleições foi muito bom.
Agora condecora Santana, a cigarra "má moeda".
A sério: O que pretende Cavaco? A política é também a arte do efeito. Que efeito procura Cavaco? Com Alegre em andamento...
Não descortino.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

??????????????????!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

O Presidente da República vai condecorar Santana Lopes?????!!!!!
Porquê???????????!!!!!!!!!!!!!!!! Para quê??????????!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Pretende valorizar a sua capacidade de intevenção no PSD???!!!!!!!
É para mim um mistério................................................

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

AGENDA DE LISBOA. 10 ANOS. E AGORA?

A Europa falhou a Agenda de Lisboa.
O Ministro das Finanças veio, em Lisboa, juntamente com a sua homóloga espanhola, dizer isso mesmo.
Adoptada há 10 anos para, justamente em 10 anos, impulsionar a Europa para se tornar a economia do conhecimento mais competitiva do mundo, pela primeira vez vejo um responsável confessar o seu fracasso. Mesmo que se manifeste optimista para os próximos 10…
Porque falhou a Europa esta estratégia?
Onde falhou? Que países foram determinantes neste falhanço? Em que países se registaram mais e melhores progressos? Como retomar o fôlego e relançar, actualizando, esta Agenda? Ou deve ser substituída por outra?
E Portugal? Como desenvolveu Lisboa a Agenda de Lisboa? Em que nos empenhámos estes 10 anos? Que êxitos registámos? Que fracassos averbámos?
A questão é central. O mundo andou. As economias emergentes cresceram. Ainda tínhamos, há uns anos, a expectativa de que o crescimento das economias asiáticas, da Índia, da China, se faria se faria em áreas de mão de obra barata e desqualificada, de que as actividades e os serviços baseados no conhecimento permaneceriam ocidentais e que a Europa daria cartas.
Enganámo-nos. Nem a Europa reforçou a sua capacidade de dar cartas, nem os asiáticos se ficaram pela economia da mão de obra desqualificada. Avançaram, decididos, na economia do conhecimento. Na formação de cientistas, engenheiros, técnicos, licenciados, doutorados, …
A questão é grave.
É precisa uma avaliação séria, sistemática, exaustiva. A reorientação necessária. Na Europa. Em Portugal. Precisamos de um Relatório de Avaliação da Agenda da Lisboa em Portugal. Rapidamente.
Para abordar os próximos 10 anos com a convicção de que, daqui a 10 anos, não vamos estar a confessar um novo fracasso.
E pode a Europa suportar novo fracasso?

EUROPA: ESTRATÉGIA DE LISBOA (?)

12/01/10, 18:57
OJE/Lusa

O Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, reconheceu hoje que as metas da Estratégia de Lisboa não foram totalmente atingidas na passada década, mas disse acreditar no sucesso para os próximos dez anos.
"Há que reconhecer que a ambição de há dez anos atrás não foi inteiramente bem sucedida, mas a nova década que agora se inicia deverá mostrar uma Europa vencedora, competitiva e líder da economia mundial", afirmou hoje o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos.
Em Março de 2000, no Conselho Europeu de Lisboa, foi definida uma estratégia até 2010 para a União Europeia, elegendo o emprego, as reformas económicas e a coesão social como partes integrantes de uma plano para tornar a Europa na economia de conhecimento mais competitiva do mundo.
"Estou confiante que com a liderança espanhola do Ecofin (comité da economia e das finanças da União Europeia) serão encontrados os melhores caminhos para que a Europa possa, de facto, ter um bom início de década, que permita uma década que marque", disse Teixeira dos Santos.
O ministro falava num encontro promovido em Lisboa pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola, que contou com a participação da sua homóloga espanhola, Elena Salgado.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

ATRASADOS... mas ESTRUTURAIS

Acabei de ouvir, no Prós e Contras, o Professor José Tribolet. Falou, com toda a propriedade, e como lhe é habitual, na necessidadede de uma cultura de valoriação do trabalho e da disciplina. E destacou um ponto que me toca, mas que é típico ser desvalorizado em Portugal. A pontualidade. Mais: quase se faz dele uma característica "genética" positiva dos portugueses: chegar tarde, começar tarde, acabar tarde, o vale mais tarde que nunca. Referiu o impacto deste fenómeno no nosso PIB...
Concordo. Disse muitas vezes que a gala que os portugueses fazem em andar atrasados é primeira causa no nosso atraso estrutural. Imaginem as horas que se perdem num dia, num mês, num ano, com o tempo que se perde a chegar atrasado e a esperar... Onde andei, nas coisas em que participei, não só nos países da Europa Central ou do Norte mas também na Espanha, na França na Itália (os latinos) as coisas, a reuniões, o que que for, começa a horas e acaba a horas. Já se percebeu há muito que trabalho é trabalho, que reuniões são instrumentos de trabalho. Nós não.
Devíamos lançar um programa nacional para a pontualidade.
Talvez seja uma ponta para desatar o nó do nosso atraso... e lançar uma cultura da responsabilidade, do trabalho, da exigência, da disciplina.
De resto, há sempre tempo para tudo. E haverá tanto mais quanto menos perdermos.

LÓGICA vs MUNDO

A questão definida no texto anterior não me larga. Não lhe saber responder torna-a uma questão seguramente maior do que ela é.
A lógica do argumento parece-me irrefutável.
Preciso de voltar a pensar na relação existente entre a lógica e o mundo, a vida.
Qual é a relação entre a lógica do pensamento e o mundo, ou o modo como o mundo e a vida ocorrem?
É por isto que a filosofia (alguma, ao menos) há-de ser útil...

domingo, 10 de janeiro de 2010

ARGUMENTOS... E CONTRA-ARGUMENTOS

E a lógica não é uma batata...
Hoje colocaram-me uma objecção que me deixou calado. Que exige um pensamento que não tenho.
Defendi a admissibilidade legal do casamento gay em nome da maioridade, da liberdade, do direito à autodeterminação de duas pessoas adultas. E mantenho. Afirmei-me contra a hipótese de avançar agora com a adopção, porque envolvia um terceiro, a criança, sem maioridade e autodeterminação...
Bem: E se se tratar de legislar no sentido de autorizar a bigamia ou poligamia? Nao será o mesmo exercício da maioridade,da liberdade individual, do direito à autodeterminação de três (ou quatro ou...) pessoas adultas?
O número é relevante para alterar a validade do argumento?
Bem, fiquei calado... Do ponto da vista lógico e de uma boa gramática argumentativa, o número não me parece alterar a validade do argumento. Mas...
É uma questão teórica, bem sei. Também não irá ser levantada na nossa sociedade.
Mas é uma boa questão à qual não sei responder...

PRESIDENCIAIS

...de novo.
Cavaco deu a volta por cima e reposicionou-se.
Alegre está na estrada. Entrevista ao Expresso. A direita, Cavaco seguramente, diverte-se com o embaraço do PS... E talvez reze para que sim, para que o PS venha, resignadamente, a apoiar Alegre. Talvez veja aí uma garantia para a sua própria vitória. Acho que veria. E acho que seria.
Espero que não. Já aqui escrevi sobre isso.
Alegre seria o candicato do Bloco apoiado pelo PS.
Alegre seria o candidato que, em todos os momentos críticos da anterior legislatura, esteve contra o PS. Alinhou e participou em iniciativas com o Bloco. Ponderou e alimentou seriamente esperanças na criação de um novo partido para desagregar o PS.
Alegre seria o pior candidato para o PS. Com a sua vocação, posicionamento e deriva esquerdistas, o país quereria um governo mais à direita. Para equilibrar.
Mas Alegre não seria melhor para o país. Falta-lhe tudo. Conhecimento. Experiência. Competências. Visão.
Espero que o PS esteja à altura. De si próprio. Do país.
Espero do PS uma candidatura para o futuro, para o Portugal na Europa e num mundo global.
Espero...

sábado, 9 de janeiro de 2010

ACORDO NA EDUCAÇÃO

O ME e os sindicatos dos professores estabeleceram um acordo. Não o conheço, não avalio, mas englobará temas como a avaliação e o estatuto.
O ME (e o Governo) pecisava dum acordo. Os Sindicatos também. Juntou-se a fome com a vontade de comer.
Vamos agora cuidar da educação.
Do ponto de vista material, decorrem investimentos avultados na requalificação das escolas.
As comunidades educativas têm à sua disposição novos equipamentos, o melhor da tecnologia.
Mas a educação depende sobretudo das condições imateriais. Da qualidade do processo de ensino-apredizagem, da disciplina, da valorização do trabalho, da organização, do conhecimento. Do modo como os estudantes, as famílias, a sociedade, valorizam a escola, a aprendizagem, a cultura, a ciência, a tecnologia.
Por todo o mundo, na Ásia, na América Latina, ... milhões trabalham e estudam tudo o que podem para conquistar o lado bom da vida. É bom que as nossas escolas, os professores, os jovens compreendam isso. Porque o nosso futuro exige que estejamos à altura.
Aprender mais, saber mais, integrar cada vez mais pessoas na rede global do conhecimeto e da inovação. Para sermos mais competitivos e produzirmos mais riqueza.
Para participarmos mais na redistribuição da riqueza, a nível local, nacional, internacional, global.
Senão, perdemos.
Senão, como ouvi alguém dizer há uns tempos, temos sempre a possibilidade de vender produtos chineses...
Este acordo foi fundamental. Para as escolas, para o país.
Mostra que se pode negociar, estabelecer acordos.
Um exemplo, que todos, e os partidos, precisamos de aprender.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

PS ADOPTA RAZOABILIDADE

O PS adoptou a posição razoável que eu esperava.
Casamento gay sim. Adopçao não.
Assim cumpre compromisso eleitoral. Assim respeita o que podemos chamar sensibilidade social.
A questão da adopção pode ser reavaliada em momento posterior. Sem pressas, com calma, pesando devidamente todas as variáveis.
Sócrates fez-se compreender.
Ainda bem.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

DIFERENDO NO PS: ADOPÇÃO?

Noticia-se diferendo entre a Direcção do Grupo Parlamentar e José Sócrates sobre adopção no casamento gay. Já enunciei a minha posição.
Nada tenho opor ao casamento gay. Por uma questão de princípio: decorre do respeito mela maioridade, pela autonomia e realização pessoais, de liberdade individual. O indivíduo que se casa compromete-se a si num projecto de vida.
Mais: o PS comprometeu-se nas eleições a aprovar o casamento gay.
A adopção de crianças no âmbito destes casamentos é matéria diferente. Não decorre apenas da afirmação da maioridade, da autonomia e realização pessoais, não é só questão de liberdade individual. Não é só uma questão civilizacional e de respeito por valores essenciais. Envolve um terceiro, menor, não autónomo. Há outras variáveis, outros interesses, outros destinos, otras vidas. Independentemente de juízos morais.
Mais: não é um compromisso assumido pelo PS perante os cidadãos. Pelo contrário. O PS reiterou o contrário.
E se talvez, mesmo com polémica, estamos maduros para validar o casamento gay, duvido que o mesmo aconteça com a adopção.
Sócrates tem razão.
Aos que querem tudo duma vez (mesmo admitindo que têm razões válidas para este debate) impõe-se o dever de reflexão. Às vezes é melhor um passo de cada vez. Forçar a velocidade, dar passos maiores do que os que podemos dar, faz-os caír e nem um passo damos...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS
Gabinete do Ministro dos Assuntos Parlamentares

NOTA À COMUNICAÇÃO SOCIAL

O Governo, desde a primeira hora, tem tomado diversas iniciativas no sentido de promover, no actual quadro parlamentar, as condições de governabilidade e de estabilidade que são desejáveis para a superação dos problemas que o País enfrenta. Tais iniciativas incluíram mesmo, como é público, o convite formal aos diversos partidos da oposição com relevância parlamentar para um diálogo sobre os termos de um seu eventual contributo duradouro para a governabilidade ao longo da presente legislatura, num quadro de responsabilidade partilhada.Sem prejuízo de assumir plenamente as responsabilidades que lhe incumbem na definição da política geral do País, em cumprimento do seu Programa democraticamente legitimado nas eleições, o Governo reitera, uma vez mais, a sua disponibilidade para o diálogo com os partidos da oposição, em especial na procura de entendimentos positivos sobre as matérias mais relevantes da governabilidade. Entre elas avulta, naturalmente, o Orçamento de Estado.
Nestes termos, o Ministro dos Assuntos Parlamentares dirigiu hoje carta aos Presidentes dos Grupos Parlamentares de significativa representação parlamentar (PSD, CDS/PP, BE e PCP) no sentido de saber da respectiva disponibilidade para encetar com o Governo um diálogo prévio à apresentação da Proposta de Orçamento de Estado para 2010, tendo em vista, na perspectiva do interesse nacional, a sua viabilização na Assembleia da República.
Gabinete do Ministro dos Assuntos Parlamentares

(Sublinhado meu)

Jorge Lacão compreendeu. O 1º Mnistro compreendeu.
Tomaram a iniciativa que se impunha.
Vamos ver as respostas da oposição.
Vamos ver quais as matérias relevantes a incluir e até onde se vai chegar.
Para já, o Governo pôs um processo em marcha.
Ainda bem!

domingo, 3 de janeiro de 2010

GLOBALIZAÇAO segundo MARX

Entretive-me a reler alguns textos clássicos, que li e estudei enquanto jovem, estudante, professor. Decidi voltar a ler O MANIFESTO. Para quem anda a estudar a sociedade contemporânea e a globalização, um bom reencontro. Mas supresa, confesso, que já me não lembrava desta caracterização de Marx.
Deixo aqui, para memória e reflexão da escolástica marxista anti-globalização, uma curta sequência.


"
A grande indústria estabeleceu o mercado mundial descobrimento da América preparara. O mercado mundial deu ao comércio, à navegação, às comunicações (...), um desenvolvimento imensurável. Este, por sua vez, reagiu sobre a extensão da indústria, e na mesma medida em que a indústria, o comércio, a navegação, os caminhosque o-de-ferro se estenderam, desenvolveu-se a burguesia, multiplicou os seus capitais (...).

A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, portanto as relações sociais todas. A conservação inalterada do antigo modo de produção era, pelo contrário, a condição primeira de existência de todas as anteriores classes industriais. O permanente revolucionamento da produção, o ininterrupto abalo de todas as condições sociais, a incerteza e o movimento eternos distinguem a época da burguesia de todas as outras. Todas as relações fixas e enferrujadas, com o seu cortejo de vetustas representações e intuições, são dissolvidas, todas as recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo o que era dos estados (..) e estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é dessagrado, e os homens são por fim obrigados a encarar com olhos prosaicos a sua posição na vida, as suas ligações recíprocas.

A necessidade de um escoamento sempre mais extenso para os seus produtos persegue a burguesia por todo o globo terrestre. Tem de se implantar em toda a parte, instalar-se em toda a parte, estabelecer contactos em toda a parte.

A burguesia, pela sua exploração do mercado mundial, configurou de um modo cosmopolita a produção e o consumo de todos os países. Para grande pesar dos reaccionários, tirou à indústria o solo nacional onde firmava os pés. As antiquíssimas indústrias nacionais foram aniquiladas, e são ainda diariamente aniquiladas. São desalojadas por novas indústrias cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, por indústrias que já não laboram matérias-primas nativas, mas matérias-primas oriundas das zonas mais afastadas, e cujos fabricos são consumidos não só no próprio país como simultaneamente em todas as partes do mundo. Para o lugar das velhas necessidades, satisfeitas por artigos do país, entram [necessidades] novas que exigem para a sua satisfação os produtos dos países e dos climas mais longínquos. Para o lugar da velha auto-suficiência e do velho isolamento locais e nacionais, entram um intercâmbio omnilateral, uma dependência das nações umas das outras. E tal como na produção material, assim também na produção espiritual. Os artigos espirituais das nações singulares tornam-se bem comum. A unilateralidade e estreiteza nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis, e das muitas literaturas nacionais e locais forma-se uma literatura mundial.

A burguesia, pelo rápido melhoramento de todos os instrumentos de produção, pelas comunicações infinitamente facilitadas, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização.
"
Karl Marx, MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA, Edições Avante

subl. meu

sábado, 2 de janeiro de 2010

A IMPORTÂNCIA DAS PALAVRAS

Reagindo à comunicação do Presidente, Francisco Assis reiterou a disponbilidade do PS para o diálogo, de olhos postos no OE. Reiterou que há um Programa de Governo legítimo e isso...O PSD, através de Marques Guedes, diz que também, mas atribui ao PS a iniciativa... e lança a farpa dizendo que o PS não pode sacudir a água do capote. O CDS também. O PC está aberto, mas só se for para... O Bloco idem... A palavra é disponibilidade. É fraco e resignado. E a vontade?
O que me parece é que o PS não pode e não deve acmpar na disponibilidade. O PS deveria afirmar o seu empenhamento, a sua vontade e assumir a liderança de um processo alargado de negociação e de concertação política. Não só no Parlamento. No País. Estar disponível é estar sentado, à espera. É ver esse diálogo como localizado, pontual e instrumental. Localizado no Parlamento. Pontual, caso a caso, quando e se necessário. Instrumental e não estratégico, apenas para desobstruir dificuldades no caminho, não para definir e construir o caminho. Assis afirma a diponibilidade para o diálogo como uma inconveniência necessária, como um acidente de percurso. É minimal e, acho eu, não percebeu a importância e a relevância política, estratégica e táctica da coisa. Ela é central para o PS e o Governo assumirem a iniciativa e a liderança da agenda e mudar o estado de coisas. A Oposição atira para as costas do PS, ou põe-se de fora. Tem que ser confrontada.
Cavaco deu ao PS/Governo a oportunidade. Cavaco colocou a oposição sob pressão.
O PS não pode passar ao lado. Ou, como diz o outro, pode, mas não será a mesma coisa.
O País perderá. O PS também.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O PR FALOU... E DEPOIS?

Ouvi atentamente o Presidente da República, na sua mensagem de ano novo ao país.
Para lá de considerações mais ou menos ideológicas o Presidente teve um par de minutos centrais, onde colocou o que é para mim a questão política maior que desafia o país e a exigir aprofundamento e respostas claras.
Com grande clareza, Cavaco Silva enunciou o que entende ser o desafio para a nossa situação. Coloca aos partidos a exigência de uma negociação séria, a construção de entendimentos parlamentares sérios, a concertação política necessária para um plano credível que, a médio prazo, coloque o país numa trajectória de sustentabilidade.
Na actual conjuntura (crise global, crise económica e social, relação de forças parlamentares...) este é, para mim, o grande imperativo da política em Portugal e tenho escrito sobre isso. Tenho me referido a esta questão como a questão de construír um novo protocolo de debate político para a construção de um novo CONTRATO SOCIAL, que defina as invariáveis, as constantes da nossa equação para o desenvolvimento.
Ou o debate político só tem em vista o escavar das nossas diferenças e contradições?
Ou nós estamos sempre, sobre todas as coisas, em desacordo irremediável?
Ou não há áreas de política que possamos considerar centrais para o desenvolvimento?
Ou não há maneira de, nessas áreas, encontrar acordos que possamos estabelecer e contratualizar?
Acredito que o debate político pode ser um jogo "win-win". Em que o país ganhe.
Bem sei que há quem fique sempre de fora. Todos sabemos que há quem ache que o seu papel é ficar de fora e estar contra. Isso, todavia, não nos pode paralisar e impedir essa negociação, esse esforço de concertação, a construção desse entendimento para uma plano credível, para um contrato social orientador e mobilizador.
Cavaco Silva coloca a questão central. Por defeito. Acho que não é só uma questão para os partidos parlamentares. É também um imperativo para os sindicatos, as associações empresariais, as universidades,...
Aredito também que o PS e o Governo deviam liderar essa debate, lançá-lo como imperativo nacional, chamar e ele os outros partidos, os outros parceiros. Porque, sendo Governo, o PS não pode ficar prisioneiro da guerra de trincheiras e da escalada de acção-reacção em que parece ter-se transformado o Parlamento. Alguém tem que introduzir aí um alargamento de contexto que defina um quadro novo, uma racionalidade mais alargada em que entendimentos sejam possíveis.
Acredito que devia ter sido o PS e o Governo a fazê-lo. Devia ter-se adiantado e comandado a agenda política. Não o fez. Deve agora levar o aviso a sério.
Cavaco Silva fez o que tinha a fazer. Falou, liderou o alargamento do contexto, avisou.
E não há avisos grátis. Vai haver presidenciais. A situação pode agudizar-se.
Cavaco vai apresentar a factura.
Cavaco deu a volta e reposicionou-se. Por cima.