Duas Margens

BEM VINDO ÀS DUAS MARGENS

Espero que possamos partilhar a vontade de construir pontes e passagens, certos de que todas a pontes e passagens têm pelo menos 2 entradas e que todas as entradas são também saídas. Às vezes não importa tanto onde entramos e por onde saímos, mas o que no percurso fazemos juntos.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

CRISE, CONTRATO SOCIAL, MAQUIAVEL E OUTRAS COISAS

1.
Em Novembro, numa reunião de militantes do PS, em Santarém, em que um dos nossos Ministros explicou o cenário pós eleitoral e o cavar de trincheiras no Parlamento de que todos nos lembramos, tive oportunidade de fazer uma intervenção dizendo que o País precisava de um Novo Contrato Social, pelo que o PS e o Governo, em vez de alimentar essa lógica conflitual, deviam assumir a iniciativa e comandar a agenda políticas, lançando aos partidos, aos sindicatos, às associações empresariais, às universidades, o desafio de iniciar um processo negocial (inaugurando uma nova lógica do debate político que valorizasse a capacidade de concertação) para definir e assumir esse novo Contrato Social de que o País necessitava para sair da crise e encontrar caminhos para um desenvolvimento sustentado (a crise via-se…)
O Senhor Ministro rpondeu explicando que o que havia para discutir tinha sido discutido na campanha eleitoral, que o PS havia ganho, que o Governo tinha um Programa de Governo legitimado no Parlamento, e que era esse Programa que devia ser executado… Tudo bem.
2.
No início do ano o Presidente de República apelou a um processo negocial sério e construtivo para um Plano de Médio Prazo capaz de nos tirar da crise e construir os caminhos para um futuro sustentado… Enfim, lá se aprovou o OE… e depois o PEC passou…
3.
A Grécia foi o que se viu… A Europa patinou… a Alemanha resmungou… As Agências de rating vieram pronunciar-se sobre a dívida portuguesa… foi um terramoto. Passos Coelho telefonou a Sócrates, encontraram-se, fizeram uma fotografia juntos, a coisa tranquilizou… dois dias…
4.
Os gregos escavam o seu próprio buraco, nas ruas, todos os dias… e puxam todos para baixo.
Nós precisamos do tal Contrato Social, ou Pacto de Estado ou como quiserem. Não bastam fotos… E não precisamos de adiar nada. Pelo contrário.
Maquiavel, n’ O Príncipe, o primeiro manual de ciência política, já nos explicava como administrar o bem e o mal:
O Bem (medidas populares): administração de modo faseado, fazer durar no tempo, acção pontuada a ritmos impressivos…
O Mal (medidas impopulares): execução rápida, em força, tão concentrada no tempo quanto possível, o máximo de intensidade suportável para o mínimo de tempo. Dói, mas passa e esquece. O contrário (dói talvez menos mas em muito mais tempo) só piora as coisas… e não se esquece…
O mal é inevitável. Então a cura deve ser rápida: agir depressa e em força. A ver se nos livramos depressa do mal e da doença e começamos a respirar de novo.
5.
Para isso é preciso reconhecer. E comandar. E ter a iniciativa. E não andar atrás dos factos e dos problemas.
De novo: precisamos de um Novo Contrato Social. Mesmo atrasado.

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