Duas Margens

BEM VINDO ÀS DUAS MARGENS

Espero que possamos partilhar a vontade de construir pontes e passagens, certos de que todas a pontes e passagens têm pelo menos 2 entradas e que todas as entradas são também saídas. Às vezes não importa tanto onde entramos e por onde saímos, mas o que no percurso fazemos juntos.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

AS PRESIDENCIAIS E O PS

As próximas presidenciais são um pesadelo para o PS.
Não tendo tomado a iniciativa, não se tendo antecipado e feito as suas definições, não tendo liderado o processo, o PS deixou-se condicionar por outras iniciativas - e ficou condicionado. Alegre aproveitou o vazio e deu o passo, ocupou o terreno, delimitou e marcou o território, certo de que outros putativos candidatos na área do PS ficaram sem margem, sem território, não arriscariam. Certo, por isso, de que o PS acabaria por ter que o apoiar.
Nesta antecipação Alegre apostou no prémio todo, num jackpot: o pleno da esquerda. PS, PC e BLOCO cair-lhe-ia nas mãos, rendidos.
Este passo em frente, tinha riscos. Um era o de ficar sozinho no terreno.
Ficou com o Bloco. O PS calou-se, o PCP tem a sua estratégia, o Bloco veio a correr antecipar-se a todos. O PC vai ter o seu candidato. O Bloco tem militantes a juntar assinaturas para convocar uma reunia para discutir a questão. O PS continua a calar-se…
Há apostas assim. Como o homem que apostou tudo no vermelho e a quem saiu o negro.
Ainda: Fernando Nobre anunciou a sua candidatura. Não anunciou uma intenção, a apalpar o terreno. Anunciou uma candidatura. Com a simpatia e mesmo o entusiasmo de muita gente, no Bloco, no PC, no PS, no centro-direita, dentro e fora dos partidos. O território marcado contraiu-se. No Bloco relançou-se a discussão que Louçã não queria. No PC não fará, talvez, grande mossa. No PS deu alma a muitos, que recusam Alegre. E deu a Sócrates o tempo de que precisava para não se render de imediato, a Alegre. Cairá, talvez. Mas não sem antes mostrar, à evidência, o incómodo, a resistência, o desconforto, o desapoio. Aqui a distinção wittgensteiniana entre dizer e mostrar ganha toda a pertinência política. Sócrates será talvez obrigado a dizer o apoio a Alegre, mas não sem antes mostrar à saciedade que não quer, que não apoia,…
O PS tem três hipóteses de decisão. Todas más. Apoiar Alegre: metade do PS não gostará. Apoiar Nobre: metade do PS não gostará. Lavar as mãos, como Pilatos, deixando liberdade de voto…: politicamente fraco, deixando ressentimentos em todo o lado. Fechado neste trilema, sem uma boa saída, Sócrates está a fazer talvez a única coisa que pode: jogando com o que diz e com o que mostra, dizer que apoia Alegra mostrando que não apoia Alegre… nem dado.
Eu gostaria que o PS apoiasse Nobre.
Compreendo a dificuldade. Mas compreendo o que não podendo dizer, mostra.
QUASE SEMPRE, O QUE SE MOSTRA É O MAIS IMPORTANTE.

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