Duas Margens

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Espero que possamos partilhar a vontade de construir pontes e passagens, certos de que todas a pontes e passagens têm pelo menos 2 entradas e que todas as entradas são também saídas. Às vezes não importa tanto onde entramos e por onde saímos, mas o que no percurso fazemos juntos.

sexta-feira, 26 de março de 2010

OBAMA: YES!

Enquanto por cá continuamos a dizer mal do Serviço Nacional de Saúde que temos, os americanos conseguiram, agora, que os seus cidadãos mais pobres não ficassem à porta dos cuidados de saúde. E, coisa inimaginável para nós, ficavam.
Obama insistiu. Obama ganhou. Obama venceu onde diversos presidentes foram vencidos.
Obama conseguiu que, após o Senado, a Câmara dos Representantes aprovasse a Reforma do Sistema de Saúde. Uma vitória para a História. E para o Mundo.
O seguro de saúde alarga-se a mais de 30 milhões de americanos que eram excluídos por não terem condições económicas e financeiras para ter seguros. As seguradoras deixam de poder excluir utentes com doenças crónicas.
Vai ainda haver muita luta. Diversos estados vão contestar. Mas dobrou-se, para milhões, o Cabo da Boa Esperança. E abriram-se as portas dos hospitais.
A propósito quero assinalar um par de coisas:
- Não sendo Portugal dos países mais ricos do mundo, sequer da Europa, e com todos os problemas de sustentabilidade que defrontamos, temos um Serviço Nacional de Saúde que garante acesso a todos e que muitas potências económicas não têm. O que devemos é trabalhar para garantir a sua continuidade. Trabalhar, produzir, ser mais competitivos, criar mais riqueza. Porque só conseguimos manter sistemas de protecção social se houver riqueza para os sustentar.
- Com esta vitória Obama dá sinal a todo o mundo: Sinal de que o progresso social exige sistemas de inclusão e protecção social. E um sinal claro – e um exemplo a seguir – à China, Índia e outras economias emergentes que fazem a sua competitividade também por as suas economias não terem o custo de qualquer sistema de protecção social que esse não é o caminho. Que o caminho é assumirem esses custos sociais, é protegerem os seus cidadãos contra a adversidade, a exclusão, a pobreza. E tornar a sua concorrência mais justa, e contribuir para a sustentabilidade do nosso modelo social.
Com esta vitória na política interna, Obama dá um forte sinal e coloca uma exigência necessária e muito forte na política externa dos EUA em matéria de direitos sociais.
É também por isto que Obama é o primeiro Presidente Global.

(Pub. A Barca, 26.03)

2 comentários:

  1. Permita-me estimado Nelson, dizer-lhe que acho a vitória de Obama uma vitória de pirro. Não os americanos mais débeis vão continuar a ter um serviço de saúde de "nível zero", comparado com o principesco acesso europeu e português aos cuidados de saúde, como o governo federal vai entregar milhões e milhões a um sistema privado sedento de mais financiamento.

    E quem vai pagar?
    Os do costume: a Europa, através dos combustíveis, cuja subida é alimentada pela maquina de guerra que os EEUU montaram no mundo nos pós-2ªguerra mundial.

    E ainda houve quem acreditasse que Obama seria "o salvador" dos sistema. Incautos!

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  2. Olá amigo Luís. É bom rever-te por cá. Sendo que nos EUA o acesso à saúde é realizado pela via de seguros de saúde o facto é que os mais pobres (dizem cerca de 30 milhões) dos americanos passarão a ter seguros de saúde e um acesso que lhes era negado aos cuidados de saúde, com financiamento do Estado. Também permite, como creio, colocar alguma pressão sobre as economias asiáticas para iniciarem também a criação de sistemas de proecção social, que no, essencial não têm, o que lhes permite uma concorrência desigual...
    Sobre o petróleo a a máquina de guerra americana creio que a tua afirmação de que é a Europa a pagar merece uma outra discussão.
    Registo a tua expressão "principesco acesso europeu e português aos cuidados de saúde". Concordo que é bom. Do melhor do mundo. Enfrenta um problema global de sustentabilidade. Não por causa de meia dúzia de liberais ou neo-liberais mas justamente porque a economia europeia já não é o que era e sofre uma concorrência fortíssima das economias emergentes, sobretudo asiáticas, que, como sublinhei, não assumem os custos e qualquer sistema de proteçcão social. Resta a questão: nivelar por baixo ou procurar nivelar por cima, levando os asiáticos a criarem tais sistemas. Nisso este exemplo de Obama é um bom argumento...

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