Duas Margens

BEM VINDO ÀS DUAS MARGENS

Espero que possamos partilhar a vontade de construir pontes e passagens, certos de que todas a pontes e passagens têm pelo menos 2 entradas e que todas as entradas são também saídas. Às vezes não importa tanto onde entramos e por onde saímos, mas o que no percurso fazemos juntos.

domingo, 27 de dezembro de 2009

ENSINAR A MOSCA A SAÍR DA GARRAFA

Decidi que, em princípio, não falo, escrevo ou comento matéria de política local. Creio ser uma boa decisão, além disso facilmente compreensível.
Mas... há sempre um mas...
Soube, sem surpresa, da decisão do Dr. Amaral, na Assembleia Municipal de 18 de Dezembro. Não compareceu, enviando uma carta em que explicava o seu pedido de renúncia ao mandato de deputado municipal.
No Primeira Linha da semana passada numa entrevista retoma os termos da carta e explica, a todos nós, os motivos da sua decisão.
Não vale a pena retomar aqui os fundamentos da sua decisão, ou os argumentos que, na sua análise, a justificaram e exigiram. Esses pode encontrá-los e conhecê-los directamente, sem intermediário.
Quero apenas salientar que o Dr. Amaral iniciou, em Janeiro de 2009, uma experiência política em que assumiu responsabilidades, se empenhou e se comprometeu, perante a comunidade e cada um dos eleitores.
Passado um ano (mais ou menos) decide-se por uma ruptura. Explica-a publicamente.
O que quero sublinhar, todavia, é o acto em si mesmo, da ruptura. Imagino: deve ter custado muito. Deve ter sido daquelas decisões que doem. Um homem põe o seu nome,a sua assinatura, a sua palavra, a sua cara, a sua credibilidade pessoal, o seu trabalho, o seu prestígio, enfim, investe-se pessoalmente num projecto no início do ano e no fim do ano vem assumir publicamente a demissão, a renúncia, e contar-nos e fazer a avaliação nos termos em que o Dr. Amaral o faz, sem omitir ou escolher as palavras mais suaves. Imagino o que lhe custou. Imagino a dureza do debate interior que terá vivido. Como o posso imaginar, admiro o gesto. Assume, clarifica, não deixa equívocos, traça as lihas de demarcação que, na sua opinião, a situação impunha.
A filosofia, dizia Wittgenstein, é ensinar a mosca a saír da garrafa.
O Dr. Amaral mostrou que se pode saír da garrafa. E porquê. E como.
Tem a minha admiração.

Sem comentários:

Enviar um comentário