Duas Margens

BEM VINDO ÀS DUAS MARGENS

Espero que possamos partilhar a vontade de construir pontes e passagens, certos de que todas a pontes e passagens têm pelo menos 2 entradas e que todas as entradas são também saídas. Às vezes não importa tanto onde entramos e por onde saímos, mas o que no percurso fazemos juntos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

TER OU NÃO TER

Imagine que um jornal perguntava a quatro pessoas da sua comunidade o que fariam se fosse presidente de câmara. Pergunta importante. É uma pergunta pela ambição que se tem.
Imagine que três delas se lamentavam. Não interessa, disto e daquilo. Também não importa saber se são queixas relevantes. A quarta foi assertiva e positiva: trabalharia para ter mais fábricas, mais empregos. Também podia ser outra coisa. Três lamentos, uma ambição.
Não interessa o concreto do que cada um diz. Interessa o que aí se mostra: Em quatro, um expressa uma ambição. É pouco, é muito pouco. Imagine isto a nível nacional…
Isto vale o que vale: um sintoma. Genericamente falta-nos ambição. Quer dizer: um imaginário qualquer, um programa de trabalho.
Ocorre-me, a propósito, John Kennedy, em 1961. A URSS tinha acabado de lançar para o espaço o Sputnik, em 1957, e culminado com a colocação no espaço de Yuri Gagarin, ultrapassando os EUA no auge de Guerra Fria. Foi um choque. Os americanos lamentavam-se de ter sido ultrapassados. Foi uma autêntica ferida narcísica no orgulho americano.
Kennedy percebeu o que se passava. A questão não era lançar ou não lançar foguetões espaciais. A questão não era ganhar ou perder a corrida espacial. A questão era ganhar ou perder a luta pelo desenvolvimento científico e tecnológico, a luta pela inovação, a luta e a competição económica, o progresso e o futuro, o lugar dos EUA no mundo.
Kennedy compreendeu que havia aqui uma corrida. A corrida pelo desenvolvimento e crescimento económicos, e que esta era uma corrida pela ciência e tecnologia, pela engenharia, pela inovação, uma corrida pela educação.
Kennedy reagiu protagonizado um dos grandes momentos da cultura política americana. Um dos momentos política e culturalmente mais eficazes da política e cultura americana: o famoso discurso ao Congresso de 25 de Maio da 1961. Nele apelou à América para um esforço de concentração e de vontade para “as grandes necessidades nacionais urgentes”.
Deixe-me citar, que vale a pena.
“Acredito que possuímos todos os recursos e talentos necessários”, diz Kennedy “mas a verdade é que nunca tomámos as decisões (…) Nunca especificámos objectivos de longo alcance num prazo urgente”. E acrescenta, curto e grosso: “Que fique claro que estou a pedir ao Congresso e ao país que aceitem um firme compromisso com um novo rumo de acção e que tem implícitos custos (…) Esta decisão exige um grande compromisso nacional (…) Significa um grau de dedicação, organização e disciplina que nem sempre caracterizou os nossos esforços ao nível (…) do desenvolvimento.”
Ninguém hoje diria melhor: “ Assim estou a transmitir ao Congresso um novo Programa de Formação e Desenvolvimento de Potencia Humano, destinado a orientar ou a reorientar várias centenas de milhares de trabalhadores, especialmente nas áreas onde existe um desemprego crónico em resultado de factores tecnológicos, ao nível das novas competências (…) com vista a substituir essas competências, tornadas obsoletas (…) pelas novas competências que os novos processos exigem.”
- Substituir as competências da população activa pelas novas competências exigida pelos novos processos.
- Renovar e relançar o sistema científico americano, da sua engenharia e capacidade de inovação.
- Lançar uma nova corrida pela educação.
- Desafiar o país a tornar-se mais inteligente.
- Palavras-chave: decisão, objectivos de longo prazo, prazo urgente, compromisso, custo, dedicação, organização, disciplina.
- E tudo à volta de uma ambição, um objectivo, um novo imaginário: Chegar à Lua, pôr um homem na Lua rapidamente. Obrigado, JK.
Poderá Portugal passar sem os nossos tradicionais muros da lamentação? Pode, mas como diz o outro, não será a mesma coisa… Óptimo. É isso mesmo que é preciso.
Temos o Plano Tecnológico… Temos o Plano Tecnológico para as escola e o Magalhães… Temos o Programa para a Energias Renováveis...Temos a banda larga… Temos o Simplex… E temos por cá a ESTA e o Tecnopólo, a Cidade Desportiva e o Tejo, a Central do Pego e o novo Complexo da Energia Fotovoltaica, temos o Mocho XI e uma cidade bonita e dinâmica… e tanta coisas de que nos possamos orgulhar…
Orgulho, crença e ambição. É isto que as novas gerações precisam de aprender de nós. É isto que nós, as comunidades locais e o país, precisamos que as novas gerações assumam. Temos que dar o exemplo e mostrar o caminho.

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