Duas Margens

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Espero que possamos partilhar a vontade de construir pontes e passagens, certos de que todas a pontes e passagens têm pelo menos 2 entradas e que todas as entradas são também saídas. Às vezes não importa tanto onde entramos e por onde saímos, mas o que no percurso fazemos juntos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

PARA UMA DECISÃO DE DESENVOLVER

A decisão de optar pelo desenvolvimento, enquanto povo e país, passa pela concertação em torno de um novo programa para um novo contrato social. Talvez demasiado original, invulgar e difícil para a nossa tradição e cultura políticas, o governo, os principais partidos, os sindicatos (mesmo que não todos), as associações empresariais, as universidades devem iniciar um debate sério e construtivo em torno das matérias que constituem o essencial desse novo contrato social, defini-lo e mantê-lo fora e acima das campanhas eleitorais e das mudanças de governo, como a espinha dorsal da nossa decisão para nos desenvolvermos.
Há três vertentes essenciais para definir esse novo contrato: as infra-estruturas, a boa governação, a educação.
Nas infra-estruturas, um macro critério: as infra-estruturas que nos ligam ao mundo e às plataformas tecnológicas e colaborativas do mundo actual. Estradas, TGV, aeroportos, portos. Fibra óptica, larguras de banda da Internet, telemóveis, tecnologias associadas mais disseminadas e baratas.
Boa governação orientada para gerir, do modo mais produtivo possível, os fluxos entre as pessoa e as plataformas do nosso mundo. O sistema financeiro e as leis. Estratégias de mercado, orientação para a exportação, investimento estrangeiro, subsídios, leis de trabalho.
Educação: aumentar o número e pessoas capazes de inovar e participar nos processos de inovação que ocorrem nas plataformas colaborativas e comunidades, organizadas ou espontâneas, que se organizam nas universidades, nas empresas, na net.
Acrescento agora uma quarta vertente, essencial para nós. Confrontados com a dureza da competitividade crescente das economias asiáticas, temos que saber exactamente o que queremos no que respeita ao Estado Social, e como o vamos obter. Lá está: em Setembro, na campanha eleitoral, ainda se discutiu esse tópico. A campanha eleitoral passou e a actualidade do tema também. Todavia á agora que é importante colocar este tema no centro da agenda política e que o tema pode ser discutido com a profundidade e o rigor que exige. É trágico que o que comanda a agenda política do país seja “a actualidade”. Não são os partidos, o governo, o parlamento, o PR. São os títulos dos jornais e as primeiras dos telejornais… Os partidos, o governo, o parlamento, o PR correm e esgotam-se todos os dias atrás dos jornais e da televisão. Impõe-se que seja a política a definir e a comandar a agenda política, ao contrário de se subalternizar e esgotar no comentário político…
Nestas matérias tem que haver opções que se assumam como o nosso programa para desenvolvimento, acima das circunstâncias e da conflitualidade política quotidiana. Muitos admiram-se como em Portugal nos esgotamos num debate perpétuo sobre toda as matérias, todos de repente especialistas a debater num debate onde está sempre tudo em aberto e sem nunca chegar a hora das decisões. Há uns meses almocei com o Encarregado de Negócios da Embaixada da Áustria em Portugal. Na altura estávamos todos ocupados, alegremente e a tempo inteiro, a esgadanhar-nos uns aos outros sobre o novo aeroporto… Exprimiu a sua admiração e perplexidade por esta, digo eu, obsessão colectiva – na Áustria, disse, não discutimos assim. Há um outro protocolo de discussão e debate sobre as grandes questões do Estado e do País. Pois. Há quem discuta com a táctica do tudo ao molho e fé em Deus. Há quem assuma a reguilice como método. Há quem ache que está sempre tudo em discussão. Há, sobretudo, quem ache que o debate político tem de ser um jogo de soma nula, um jogo em que se eu ganho tu perdes e jogamos para ganhar e fazer o outro perder. E há quem tenha uma outra cultura do debate, e protocolos inteligentes de debate em vistas às grandes opções do Estado e do País. Há uma outra cultura que vê também no debate político um jogo de soma não nula, em que pode e deve ganhar o país. Para lá das quatro vertentes enunciadas, há também esta quinta, agora de método: a aprendizagem e a prática de um novo protocolo para os debates e decisões das grandes questões e opções de Estado. Aliás, cada vez mais, em vez de se falar em países subdesenvolvidos, desenvolvidos e muito desenvolvidos, começa a falar-se em países não inteligentes, países inteligentes e países muito inteligentes.
Precisamos de decidir, também, que queremos ser um país muito inteligente.
Muitos outros já decidiram e estão a caminho.

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