Duas Margens

BEM VINDO ÀS DUAS MARGENS

Espero que possamos partilhar a vontade de construir pontes e passagens, certos de que todas a pontes e passagens têm pelo menos 2 entradas e que todas as entradas são também saídas. Às vezes não importa tanto onde entramos e por onde saímos, mas o que no percurso fazemos juntos.

sábado, 19 de dezembro de 2009

MOONLIGHT, BEETHOVEN

Um dia destes, cinzento, com chuva e frio, ocorreu-me Moonlight (para mim era Clair de Lune, em francês, do disco em que ouvi pela primeira vez).
Ocorreu-me, acho, pelo dia que me fez lembrar.
Istambul, fim de Novembro de 2008. Hotel Hilton (não lembro de qual, há mais que um em Istamul). Sentado no grande átrio, ao fim da tarde de um dia assim, esperava pelo Fernando Ruas (Presidente da CM Viseu e da ANMP). Partilhava com ele o facto de sermos ambos membros do Conselho Mundial e também do Conselho Executivo da UCLG (United Cities and Local Governemens). Realizavam-se em Istambul, justamente no Hilton, as reuniões daqueles dois órgãos. Sentado no átrio, ao fim da tarde, esperava pelo Fernando Ruas. Sentada ao piano, uma mulher jovem (30 e poucos, alta, magra, cabelo comprido ondulando pelos ombros, tocava para todos, para ninguém. Já tinha tocado no dia anterior, eu tinha reparado e tinha tocado Moonlight e eu ouvira. Imensa gente estava e circulava, mais ou menos indiferente. Senti indiferença a mais. Ela tocava com a alma e com a doçura e a intensidade que um fim de tarde cinzento, frio e chuvoso estava mesmo a pedir. Aquecia a alma em lume brando. Num pequeno intervalo levantei-me e dirigi-me até ao piano e ela olhou e eu disse assim, não sei porquê, em francês, ontem ouvi-te e admirei o modo como tocas, tocaste Clair de Lune e eu gostei. Ia-me embora e ela disse, em inglês, obrigado, gostaste? gostas de Moonlight? e eu disse sim eu gosto e ela disse vou tocar outra vez para ti e eu fui sentar-me e continuar a beber não sei o quê e a ouvir e ela volta e meia olhava para mim e sorria e o cabelo ondulava-lhe suavemente pelos ombros. Quando acabou olhou me e fez um sorriso maior e eu gostei e ela continuou a tocar, era a vida dela. Foi um momento fugaz e efémero e feliz. Daqueles momentos que às vezes, em dia cinzentos de chuva e frio, evocamos sabe deus porquê e nos sabe bem.
Nunca mais me vou esquecer de Moonlight, de Beethoven.
Foi um belo dia de inverno.

Sem comentários:

Enviar um comentário