Duas Margens

BEM VINDO ÀS DUAS MARGENS

Espero que possamos partilhar a vontade de construir pontes e passagens, certos de que todas a pontes e passagens têm pelo menos 2 entradas e que todas as entradas são também saídas. Às vezes não importa tanto onde entramos e por onde saímos, mas o que no percurso fazemos juntos.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A CRISE

Habituámo-nos à ideia de que há crises. Vêm, fazem estragos, passam e retomamos a normalidade. Como se costuma dizer “incha, desincha e passa”
Habituámo-nos à ideia de que o mundo é ocidental. Que o Ocidente construíu, mantém e manterá uma hegemonia global.
Desde há 500 anos que a Europa (Portugal, Espanha, França, Itália, Inglaterra, Holanda) construiu, participou e dominou o comércio global. A Europa estabeleceu, ganhou e manteve o controlo da guerra pela riqueza global. Chegou a todo o lado, destruiu exércitos e economias, dominou, estabeleceu os termos de uma economia global, desenvolveu um complexo tecno-científico-económico-militar que lhe assegurou a hegemonia e o crescimento, criou um modo de vida. Prosperou. Enriqueceu.
O século XX trouxe consigo o fim dos grandes impérios europeus. E refez os termos da guerra pela riqueza e prosperidade globais.
Outros, outros continentes, descobriram que podiam participar nessa guerra e puseram-se a caminho. Apropriaram-se dos instrumentos com que o Ocidente estabeleceu o seu domínio: a organização do trabalho, a economia de mercado, comércio livre, o conhecimento, a ciência, a tecnologia, os instrumentos da globalização, e usam-nos, intensa e inteligentemente, para estabelecer a sua própria organização e competitividade económicas à escala global.
Primeiro o Japão, depois a Coreia, Taiwan e os chamados Estados Tigre como Singapura, agora os grandes gigantes China e Índia. É já a Ásia/Pacífico a dizer que é o epicentro da economia mundial, a zona sobreaquecida pela energia do trabalho, do investimento, da inovação, da prosperidade, da riqueza.
São 500 anos de hegemonia global da Europa e do Ocidente que caminham para o fim.
Esta é a crise. Não é mais uma crise conjuntural. É o canto do cisne da hegemonia ocidental.
Não é obra de meia dúzia de neo-liberais se nos confrontamos com um ciclo de empobrecimento relativo, com um ciclo de declínio. É obra de muitos milhões de asiáticos que trabalham muito, estudam muito, aprendem muito, investigam muito, investem a uma escala que não imaginamos, de povos fartos de estar no lado mau da vida e que querem fazer tudo o que podem para ser eles a gerir o condomínio global.
A Europa espera, sentada, que a coisa “inche, desinche e passe”.

Pub "A BARCA" 25.02.10

2 comentários:

  1. Olá Nelson ! Tomámos a liberdade de reproduzir este post no nosso blogue tomaradianteira.blogspot.com, o que nos obriga a vir agradecer-lhe e solicitar-lhe que prossiga sempre com a mesma coragem. Isto há-de mudar. Só falta saber quando. Força !

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